terça-feira, 24 de novembro de 2009

Encontro de degustação de cervejas em BH

Prova entre amigos

Estado de Minas - Eduardo Tristão Girão

Produzida em Minas, a Vivre pour Vivre agrega o aroma e o sabor da jabuticaba

Cerveja

Começou assim: um chegava de viagem com cervejas diferentes, logo mais o outro, que também havia trazido alguns rótulos de fora ficava sabendo, e em pouco tempo uma verdadeira rede de amigos entusiastas da bebida estava cheia de preciosidades nas mãos. Por que não reunir todo mundo numa noite para cada cervejeiro provar um pouco do que o outro andou garimpando por aí? Assim nasceu a ideia da Degustação Histórica, que teve sua primeira edição em abril deste ano no Frangó, bar que é referência em cervejas (e coxinhas) em São Paulo. O segundo encontro da turma foi na última quarta-feira, no Haus München, a meca dos belo-horizontinos que apreciam “loiras, ruivas e morenas”.

Na mesa, só notáveis – a começar pelo próprio dono da casa, o empresário Rodrigo Ferraz. A convite dele, estavam lá o jornalista austríaco Conrad Seidl (o papa do assunto, autor do ótimo livro O catecismo da cerveja), a mestre cervejeira e beer sommelier Cilene Saorin (SP), Marcelo Carneiro (Cervejaria Colorado/ SP), Cassio Piccolo (Frangó/SP), Edu Passarelli (do blog Edu Recomenda/SP); Sérgio Bueno (bares Original, Pirajá e Astor, Pizzaria Bráz e Hamburgueria Lanchonete da Cidade/SP), André Clemente (colunista da revista Prazeres da mesa/SP), Marco Falcone (cervejaria mineira Falke Bier), o mestre cervejeiro Paulo Schiavetto (MG), Halim e Ana Paula Lebbos (cervejaria mineira Backer) e Fernando Areco (restaurantes A Favorita, La Victoria e Splendido, em BH).

A inspiração foi o Jantar do Século, que reuniu Ferran Adrià e dezenas de outros chefs espanhóis importantes em São Paulo, no ano passado. Mas as coincidências param aí: o evento não foi aberto ao público. Afinal, trata-se essencialmente de um encontro de amigos em torno da cerveja. Ainda assim, é relevante para a cena cervejeira da cidade. Como disse bem Rodrigo Ferraz:
“Trazer todas essas pessoas à cidade já é muito importante. Esse é um trabalho a longo prazo. Para implantar uma cultura num local, é preciso que haja conjunto de ações, e não ações isoladas. É um trabalho de formiguinha”
Ele sabe o que fala. Neste semestre, estiveram em eventos do Haus München dois grandes nomes da cerveja no cenário mundial: o cervejeiro caseiro e designer de rótulos norte-americano Randy Mosher (foi ele quem desenhou os da Colorado) e, agora, Conrad Seidl. O próprio Conrad, durante a degustação, fez questão de ressaltar, em voz alta, a importância desse tipo de reunião. A próxima Degustação Histórica será na Melograno, forneria e empório de cerveja paulistano de Edu Passarelli, em abril do ano que vem. A intenção é fazer dois encontros como esse por ano.

A degustação contemplou 17 cervejas diferentes, produzidas na China, Itália, Estados Unidos (a maioria), Bélgica, Áustria e Brasil. A propósito, as nacionais se saíram bem entre as demais: foram experimentadas a wee heavy scotch ale Bode Brown/PR; a imperial stout com rapadura preta Colorado Vintage Black Rapadura/SP e, em primeira mão, a sour ale com jabuticaba Vivre pour Vivre, da mineira Falke Bier. Bairrismo a parte, a cerveja mineira roubou a cena.

Marco Falcone, um dos responsáveis pela formulação da Vivre, conta que várias experiências foram feitas com as jabuticabas. Primeiro, fervendo as frutas em água e depois congelando-as. As duas deram errado, pois houve perda dos óleos essenciais, o que interferiria de maneira negativa na avalição dos sabores e aromas do produto final. A solução foi macerá-la com água mineral em temperatura ambiente.

Para quem conhece, a espetacular Monasterium (ale estilo belga de abadia) produzida pela Falke Bier é a base dessa cerveja. Fermentada por três anos em garrafa com o preparado de jabuticaba, ganha não apenas cor arroxeada, mas aroma e sabor delicados da fruta. Um trabalho de mestre, que lembra a tradição europeia de cervejas feitas com frutas. O primeiro lote, de 300 garrafas, já está no ponto e será repartido entre especialistas.

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