Minha viagem cervejeira no Brasil
Anjali Oberoi
Recentemente comecei a trabalhar em um projeto que envolve comida. Muita comida. Também envolve usar minhas habilidades para transformar comida numa realidade, então no final das contas, é bem legal (doce), mesmo antes de levar em conta que uma dessas comidas é o chocolate.
Mas não vamos divagar. Com o risco de generalizar o uso do termo "comida", uma outra dessas comidas é a cerveja. Cerveja. Eu posso de modo geral não ser muito de beber, mas eu já tinha tido o bastante. Eu diria também que sou bem aberta a provar álcool e tenho uma escala bem graduada para medir meu grau de quanto gosto de algo que provo. De algum jeito a cerveja nunca tinha saído do ponto zero da minha escala. A resposta geral para essa afirmação é - "mas você já provou alguma BOA cerveja?" - e para essa, minha resposta é SIM. Provei mais de 300 cervejas nos últimos anos, empurradas para mim pelos amigos e parentes, todos com a enfática afirmação "DEFINITIVAMENTE você vai gostar dessa", e sabe o quê? Não gosto. Talvez por que eu tenho gosto ruim ou porque as únicas cervejas que tenho sido capaz de tolerar são Lambics frutadas que, ao menos em Nova Iorque, vêm com uma pouco saudável dose de açúcar adicionada.
Então imagine a minha reação ao ser informada que estou indo para o Brasil para conhecer um mestre-cervejeiro e conduzir uma pesquisa de campo para construir um plano de negócios para uma cervejaria. Brasil?! Sim!! Fazer um plano de negócios? Fantástico! Conhecer um mestre-cervejeiro e visitar cervejarias? Bem legal. Provar umas dúzias de cervejas enquanto sou observada por cervejeiros esperando minha opinião? Ah não...
Se ainda não adivinhou, essa é a história da minha viagem cervejeira brasileira de 3 dias e... espere por isso... como eu me apaixonei por uma cerveja.
Eu voei para Belo Horizonte, a capital e maior cidade do estado de Minas Gerais, uma parte do Brasil que eu não tinha visitado antes. Minas Gerais é um estado sem litoral, chamado assim pela ocorrência de mineração nessa parte do país. Belo Horizonte é realmente uma grande cidade e o aspecto que lhe dá o nome é evidente em casa passeio - eu fiz um tanto!
Conheci o Marco Falcone, meu mestre-cervejeiro guia, na primeira noite. Marco é uma das pessoas mais gentis e simpáticas que já conheci e um cervejeiro altamente respeitado na comunidade da cerveja artesanal brasileira. Felizmente fomos capazes de comunicar bem falando (principalmente) inglês e um espanhol-português misturado. Ele preparou um fantástico itinerário que incluiu visitar uma série de cervejarias, do caseiro com equipamentos feitos por eles mesmos, à cervejaria de larga-escala, mas mesmo assim artesanal. Ao fim da viagem, me senti um pouco como Cachinhos Dourados: essa era muito pequena, aquela era muito grande, e ah, essa é do tamanho certo!
Aquela primeira noite, visitamos um cervejeiro caseiro e um cervejeiro profissional de pequena escala. Meu interrogatório e minhas anotações abundantes eram frequentemente interrompidas por "prove essa cerveja!" e eu ficava por fora por não ser uma entendedora. Os cervejeiros ficaram incrivelmente animados com a minha visita, o que é mais do que eu consigo dizer sobre mim quando alguém me diz que realmente não gosta de chocolate.
Me dei conta que o mundo da cerveja artesanal é bem similar ao do chocolate artesanal. Há os "grandes" que normalmente fazem terríveis produtos e tiram fora à força os pequenos por pura força econômica. E há os "pequenos", que estão nesse mundo graças à paixão deles pelo produto, sempre lutando para criar alguma coisa melhor, ansiosos por educar seus consumidores. Eles falam de sabores, essências e notas na cerveja assim como eu falo sobre o chocolate. Estranhamente o bastante (ou talvez não?), as cervejas mais escuras, como os chocolates mais escuros, são aqueles com maior complexidade.
Marco bebeu alegremente minhas cervejas que eu tinha só tinha tomado alguns goles. No dia seguinte ele levou seu filho junto como motorista. Eu acho que ele percebeu que se tivéssemos que continuar visitando cervejarias e ele tivesse que continuar a tarefa de beber duplamente, isso seria necessário. Ele nem questionava se ia beber a segunda rodada se achava que era uma boa cerveja, e eu desenvolvi um saudável respeito por essa capacidade dele. Também, pobre Rafael! Imagine um garoto de 21 anos dirigindo para nós de uma cervejaria para outra e não ser permitido tocar uma gota! Mesmo assim ele continuou de cara ótima e minha oferta de dirigir e deixá-los beber foi recusada com risadas.
O nosso segundo dia envolveu visitar uma cervejaria de média escala onde eu aprendi a expressão "vender o peixe". É uma expressão usada pela indústria que se refere a vender (a cerveja) o produto. Mais cervejas que bebi pouco, corajosamente bebidas por Marco e então partimos para a Falke Bier, a cervejaria dele.
Escrever sobre a Falke Bier tomaria um post inteiro sozinho então não vou começar aqui, ao invés disso vou indicar ao leitor o artigo onde Charlie Papazian escreve sobre a viagem dele por aqui. A cervejaria é maravilhosamente localizada no campo, limpa e bem organizada. Meu lugar favorito foi uma cave subterrânea onde a cerveja de estilo belga do Marco, a Monasterium, matura ao som de canto monástico. Se eu jamais fosse pensar num lugar apropriado para meditação, esse seria o lugar. Então, estou eu flutuando nas alturas (e ainda escrevendo abundantes anotações), aí... Marco tira uma Vivre Pour Vivre, a sua cerveja de estilo belga obra-de-arte não-à-venda.
Essa cerveja é descrita muito bem no mesmo artigo do Charlie Papazian, então não estou certa do que mais dizer sobre ela, exceto que bebi duas taças. Dito o bastante. Finalmente, aqui estava uma cerveja que eu poderia beber! E não era açucarada! E... não está à venda. Suspiro. Em retrospectiva, essa é provavelmente uma boa coisa, porque a última coisa que eu preciso juntar à minha (já pesada) moda do chocolate é uma cerveja. Mas vou aproveitar a chance para cumprimentar o Marco.
Após três dias, cada um deles terminando em bares que apoiam a cultura cervejeira artesanal, que floresce rapidamente em Belo Horizonte, fiquei convencida que todo mundo na cidade fosse ou cervejeiro ou bebedor de cerveja... ou um autor de cerveja. Eu sei que é uma visão deformada, mas eu a reafirmo - cada pessoa que conheci tinha sua própria cervejaria, ou em casa ou profissionalmente. Aqueles que não tinham, bebiam. Aqueles que tinham, bebiam também.
Há muito mais - parece que uma parte da cidade faz cachaça ao invés de cerveja. Visitamos um adorável local de produção de cachaça, em um vale verde, apropriadamente chamada Vale Verde, a cerca de 40 km de Belo Horizonte. Mas vou para aqui por agora e tirar meu chapéu para a cerveja.
Cerveja. Ainda não sou fã de verdade mas sinto que te entendo melhor agora. Estou contente que você está se tornando independente como produto artesanal, um movimento que apoio totalmente em todas as áreas dos alimentos. E prometo manter uma mente aberta na próxima vez que te provar, caso encontre no mercado uma Vivre Pour Vivre!
P.S. Assista esse vídeo (I am a Craft Brewer) e procure por cervejarias artesanais regionais onde for viajar - você não vai se arrepender assim que ouvir as incríveis histórias que eles têm pra contar.
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