Analistas esperam mais fusões no mercado de cervejas
por Louise Lucas
por Louise Lucas
O setor cervejeiro acumulou US$ 142 bilhões em fusões e aquisições nos últimos cinco anos, segundo a Bloomberg. Mas alguns analistas dizem que o grande negócio ainda está por vir. Esse grande evento seria a compra da SABMiller pela Anheuser-Busch InBev por cerca de US$ 70 bilhões antes de vendas de ativos, superando a aquisição da Anheuser-Busch pela InBev, por US$ 52 bilhões, que criou a maior cervejaria do mundo. Isso resultaria em uma empresa controladora de cerca de um terço do mercado mundial de cervejas, antes de vendas de ativos.
“A aquisição da SABMiller, combinando dois importantes atores no setor, que há muito tempo consideramos como um desfecho lógico para a ABI, agora parece viável”, escreve Eddy Hargreaves, da Collins Stewart, em relatório que analisa as chances desse negócio.
Para o Credit Suisse, uma “desalavancagem da AB InBev, uma presença cada vez mais menor da SABMiller e racionalidade empresarial nas duas companhias são fatores maduros para produzir mais consolidação na indústria cervejeira”.
Essa visão é reforçada por mudanças no topo da SABMiller, cujo diretor financeiro, Malcolm Wyman, deverá aposentar-se em julho e cujo executivo-chefe, Graham Mackay, deverá fazer o mesmo em um ano ou dois.
A empresa orgulhosamente independente, com suas raízes sul-africanas e ações negociadas no Reino Unido, tem cerca de 80% das vendas em mercados emergentes de rápido crescimento e predominância praticamente total em países, como a Colômbia.
Jonathan Fell, analista do Deutsche Bank, especula argumentos contra uma fusão. “Reunir duas empresas de coberturas geográficas bastante distintas não cria, necessariamente, muito valor”, argumenta Fell. Isso se deve ao fato de “marcas de cerveja serem ainda muito locais e por não ser possível despachar [o produto] para meio mundo de distância [tendo em vista os custos de transporte], exceto em casos peculiares a nichos”.
Com base nessa lógica, alguns analistas têm sondado a ideia de fusões mais inventivas, como a fusão da SABMiller com a Diageo, fabricante britânica de bebidas alcoólicas cujas marcas incluem a cerveja Guinness, ou com a fabricante de refrigerantes PepsiCo. Mas Trevor Stirling, analista da Bernstein, vê pouco proveito nessas fusões. As sinergias em distribuição se resumiriam a mercados emergentes em estágios muito incipientes.
As opções da SABMiller no mercado mundial de cervejas parecem limitadas. A companhia gostaria muito de comprar a Castel, cervejaria africana com a qual mantém uma participação cruzada, mas a família proprietária não manifestaram nenhum desejo de vender.
A australiana Fosters, na prática à venda após ter sido desmembrada das operações de vinho e cerveja, é um ativo caro em um mercado maduro e um possível alvo de aquisição em relação ao qual vários investidores na SABMiller manifestaram desinteresse.
Em contraste, a AB InBev tem menos obstáculos em uma possível iniciativa de compra da SABMiller, diz Hargreaves, “Creio que a AB InBev poderia fazê-lo, agora, pagando inteiramente em dinheiro. Realmente, acho que perfeitamente concebível que o farão dentro de um ano, com um desembolso líquido de US$ 63 bilhões”.
Segundo seus números, tal negócio elevaria a relação dívida líquida da AB InBev versus lucro antes de juros, impostos e depreciação das atuais 2,8 vezes para 4,3 vezes. Isso é inferior ao múltiplo 5,5, atingido após a aquisição da Anheuser-Busch. O cálculo pressupõe vendas de empresas que possam motivar preocupações antitruste. A AB InBev afirma-se capacitada a cortar custos e comandar uma operação mais enxuta.
Mas, até mesmo a AB InBev poderá achar a SABMiller um desafio difícil, disse Stirling. “A SABMiller está longe de ser tão ineficiente como era a Budweiser”, diz ele, ressaltando que a AB InBev foi capaz de ampliar as margens operacionais da Budweiser em 13 pontos percentuais. Em comparação, o máximo que ela poderia esperar eliminar dos custos da SABMiller seriam 5 pontos percentuais, calcula. Desalinhamento cambial e riscos associados à execução também tornam mais difícil forjar um acordo.
“Se a AB InBev comprasse por 28 libras por ação, os executivos receberiam 650 milhões de opções adquiridas. Se receberem tudo isso, certamente iriam para a praia, e não permaneceriam na companhia, o que abriria grandes buracos em sua administração”.
Quando seria o momento de uma decisão? “Acho que em poucos anos a AB InBev chegará a uma bifurcação em seu caminho”, diz Fell. “Ela poderá se tornar uma enorme máquina de fazer dinheiro e ficar remunerando seus investidores ou poderá partir para a compra de algo enorme, e a SABMiller seria um dos ativos que poderiam ser comprados”.
Fonte: Valor Econômico/11 de maio de 2011/B8.
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