segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Indústria Cervejeira


Novo foco global faz da Carlsberg a quarta do mundo


É um dia gelado e cinza, em que a cena criada pela nevasca que assola o edifício centenário da sede da Carlsberg lembra um conto de fadas de Hans Christian Andersen.

Mas há um ar de mudança na Carlsberg AS. Sua cervejaria foi transferida para um novo local em Fredericia, na Jutlândia, três horas de carro a oeste, e no antigo prédio operários se ocupam limpando os resquícios do passado.

Ainda se podem ver cavalos da Jutlândia puxando carroças da cervejaria na antiga fábrica, mas o que já foi uma empresa profundamente enraizada na sociedade dinamarquesa se tornou a quarta maior cervejaria do mundo depois da Anheuser-Busch InBev, da SABMiller PLC e da Heineken NV, com faturamento de 59,5 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 10,54 bilhões) e um império que vai de Copenhague ao Camboja.

Hoje em dia, sentando em sua sala no último andar de um silo de grãos convertido em prédio de escritórios, o presidente da Carlsberg, Jørgen Buhl Rasmussen, parece relaxado. Obviamente que as mudanças lhe caem bem.

Buhl Rasmussem, que assumiu o cargo em 2007, é um dos poucos líderes do segmento de bebidas que não fez carreira em cerveja. Depois de obter um M.B.A da Escola de Economia & Administração de Copenhague, ele passou 14 anos trabalhando no Reino Unido, primeiro na Duracell e depois como diretor-superintendente da Gillette Group para África, Oriente Médio, Leste Europeu e Reino Unido.

Analistas dizem que essa experiência proporciona uma combinação única de discernimento e oportunidade, já que ele chegou à Carlsberg com uma visão externa da empresa.

"Temos uma estrutura acionária única com a fundação Carlsberg e as pessoas respeitam muito a marca e sua história", diz ele. "Isso criou uma cultura única. Mas, por outro lado, somos uma empresa de marcas, concentrada na inovação. Então no fundo somos muito parecidos com outras empresas de bens de consumo, como a Procter & Gamble."

A grande mudança na Carlsberg começou dois anos atrás, quando ela se uniu à concorrente holandesa Heineken para comprar a Scottish & Newcastle PLC. O acordo de 8,8 bilhões de libras esterlinas (US$ 13,91 bilhões) envolveu o pagamento pela Heineken de 4,7 bilhões de libras pelas operações britânicas, portuguesas, irlandesas, finlandesas e belgas da S&N. Já a Carlsberg ficou com os ativos da S&N na Ásia, França e Grécia, bem como o controle total da Baltika, a cerveja mais vendida da Europa, segundo a empresa.

O acordo também sinalizou a ascendência da Carlsberg como multinacional com grande presença na Rússia, país que, graças à divisão Baltika, agora responde por 45% das vendas da empresa, segundo Buhl Rasmussen.

Mas meses depois de concluir a aquisição vieram a crise financeira e a recessão mundial, que prejudicaram fortemente as vendas em mercados importantes. As vendas caíram 10% na Rússia ano passado e prevê-se que caiam entre 10% e 13% este ano.

"Fomos surpreendidos no fim de 2008, é claro que o ocorrido em 2009 foi inesperado", reconhece ele. "Mas realmente acredito que se você olhar para trás e analisar o que conseguimos em termos de participação do mercado e resultados financeiros e fluxo de caixa, foi um desempenho muito bom num ano muito desafiador."

Para piorar as coisas, a Rússia aumentou a regulamentação em janeiro e triplicou o imposto sobre a cerveja. Enquanto isso, a Anheuser-Busch InBev divulgou recentemente uma alta de 8% nas vendas russas após lançar no país sua principal marca, a Bud.

Apesar disso, Buhl Rasmussen continua otimista e ressalta que os mercados emergentes têm um potencial de crescimento enorme e a Carslberg vai investir neles no longo prazo: "Preferimos estar lá a não ter presença. Nossa visão é que a Rússia vai proporcionar muito crescimento no longo prazo".

"O russo consome na média muito álcool", admite. "Mas não é cerveja, são os destilados."


Também há a pequena questão de a Rússia ser a sede da Copa do Mundo de 2018. A Carslberg já é a patrocinadora oficial da Copa da Uefa na Polônia e Ucrânia, em 2012, tem um acordo com a Associação Inglesa de Futebol e durante muitos anos patrocinou o clube mais bem-sucedido da Inglaterra, o Liverpool.

Outra grande oportunidade está na Ásia. A Carlsberg tem presença considerável na China, na Índia, na Malásia e no Vietnã. "Provavelmente vamos ver entre 60% e 80% do crescimento mundial no volume na Ásia e boa parte disso virá da China", diz ele.

Buhl Rasmussen se recusa a estabelecer data para uma possível aquisição, mas diz: "De fato vemos muitos oportunidades para fortalecer nossa posição na Ásia e isso inclui em algum momento algum tipo de aquisição lá".

Em meio a tantas mudanças e a atividade na Ásia, uma coisa não muda. "A Carlsberg é a segunda maior marca internacional na China, atrás da Budweiser", diz ele, antes de afirmar: "Como marca, somos maiores na China que a Heineken". As velhas rivalidades continuam.

Fonte: William Lyons (TWSJ) para Valor Econômico, seção empresas, B10.
Foto: Associated Press

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