domingo, 25 de julho de 2010

Concursos


SP promove o 1º concurso de cerveja caseira do estado
Bebida é produzida no quintal dos apreciadores e eles criam receitas.Competição ocorre neste fim de semana em microcervejaria de Votorantim.
Carolina Iskandarian Do G1 SP, em Votorantim

Em busca de “boa cerveja” e da possibilidade de tê-la quando quisessem, os engenheiros mecânicos Rudolf Schuetzer e Sérgio Alexandre Freire, ambos com 28 anos, decidiram produzir a bebida no quintal de casa. São os chamados ‘home brewers’. A brincadeira já dura um ano e os dois estão entre os 31 candidatos que participarão neste fim de semana do 1º Concurso Paulista de Cervejas Caseiras, em Votorantim, a 102 km de São Paulo.

A competição, realizada na microcervejaria Bamberg, vai eleger a melhor cerveja artesanal feita em casa no estado. A Barba Bier, criada por hobby, fica no jardim de Schuetzer em Sorocaba, cidade vizinha. O jovem descendente de alemão e o amigo receberam o G1 na tarde de sexta-feira (23), horas antes da prova dos jurados que acontece neste sábado (24). Com o caneco na mão, Schuetzer brincou: “Não sei se a gente vai ganhar não”. E Freire emendou: “Estou mais empolgado com o evento do que em ganhar. O legal é juntar todo mundo, divulgar a cultura cervejeira”. Eles contam que investiram R$ 700 na Barba Bier, como chamam a “fábrica” onde se divertem fazendo cerveja para os amigos.

De cada processo, saem 20 litros e Schuetzer revela que a bebida só fica pronta mesmo em um mês. Tudo ali é simples. “A gente matura a cerveja na geladeira”, diz Freire. A produção começa em panelas de alumínio e o líquido descasa em recipientes de plástico, como se fossem pequenos tonéis. Além disso, os dois precisam do moedor do malte e da prensa da tampinha. Eles querem impressionar os jurados fazendo uma cerveja sem tanta ousadia. “A gente gosta de seguir a lei da pureza. O que fizemos de diferente foi importar da Inglaterra o lúpulo e o fermento”, revela Schuetzer. Esse mandamento dos cervejeiros diz que a iguaria deve levar apenas água, malte, lúpulo e fermento. “São os ingredientes básicos e 99% dos cervejeiros caseiros fazem assim. Só que a variedade de malte e fermento é enorme”, explica Afonso Fraga Landini, um dos jurados do evento.
A prova

A degustação que vai definir o melhor mestre cervejeiro caseiro é neste sábado. No domingo (25), acontece a premiação. “Quem ganhar vai poder produzir 800 litros (2.500 long necks) da própria cerveja aqui na Bamberg”, diz Alexandre Bazzo, de 34 anos, dono da microcervejaria criada por ele e dois irmãos em 2005.

Para garantir a isenção na escolha do vencedor, Bazzo guarda o número dos inscritos como se fosse a receita mais secreta de uma nova cerveja. “Só eu sei”, brinca. Os jurados degustarão a bebida sem saber quem a produziu. E na ficha com os quesitos consta a identificação numeral do candidato. “Levamos em conta a aparência, o aroma, o sabor, a sensação na boca, vemos se é encorpada”, cita Marco Falcone, também jurado e dono da microcervejaria Falke Bier, de Minas Gerais. De acordo com ele, o mercado das cervejas artesanais no Brasil está crescendo, entre outros fatores, porque “o consumidor brasileiro está mais exigente”, quer qualidade. “Com esse tipo de evento (o concurso), incentivamos a fazer a cerveja em casa”, conta Falcone. De acordo com ele, ainda falta muito para os empresários do ramo abocanharem uma fatia maior desse mercado no país. “Produzimos por ano 14 bilhões de litros. Só 0,3% disso é de cerveja artesanal.”

Para os especialistas, um dos grandes diferenciais da bebida artesanal é que ela é feita com matéria-prima mais nobre, como o puro malte ou o malte defumado. “Na indústria, eles usam cereais não maltados, como o arroz e o milho, para baratear.” O preço da cerveja artesanal ainda não é um atrativo, podendo variar de R$10 a R$ 120. Ou mais. Mestre cervejeira com formação no exterior, Cilene Saorin também foi convidada para ser jurada. Apesar de gostar “de todas” as cervejas, ela é uma das que defendem a ousadia do ‘home brewer’. Para isso, surgem misturas um tanto peculiares, como a bebida que leva gengibre, coentro, alcaçuz, curaçao (casca da laranja azeda) e até pimenta. “Eles não têm o propósito de fazer dinheiro. É puro hobby. Enquanto ‘home brewer’ e entusiastas, eles movimentam a sua comunidade, são formadores de opinião e isso é extremamente importante", diz Cilene. À medida em que leem mais e pesquisam sobre o assunto, os produtores de cerveja caseira ficam com o paladar apurado e um tanto exigentes. “Eu não mais consigo beber a cerveja comum”, afirma Rudolf Schuetzer. Se ele pensa em tornar a Barba Bier um negócio sério? “Não. Isso é um hobby. É bem mais divertido do que trabalhar (com cerveja).”

24/07/2010 14h01 - Atualizado em 24/07/2010 14h01
Foto: Carolina Iskandarian

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