sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Opinião


Publicamos a réplica do artigo " A cerveja: bebendo gato por lebre"


A cerveja e o orgulho de quem faz o melhor
31/12/2009


A indústria brasileira de cerveja zela pela qualidade de seu produto. Ela sabe que seu consumidor é exigente e tem muito bom gosto SILVIO LUIZ REICHERTEM ARTIGO publicado no dia 18 ("A cerveja: bebendo gato por lebre"), o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite atacou duramente a indústria brasileira de cerveja, lançando mão de argumentos ora incorretos, ora infundados, mas sempre injustos. Argumentos que precisam ser refutados em nome de um setor que goza da confiança e da preferência de milhões de consumidores, que foram inaceitavelmente desinformardos. Para deixar claro que não aprecia o produto que é feito no Brasil e consumido e aprovado pelos brasileiros, o autor se vale de números errados e premissas levianas que não levam à conclusão por ele desejada, a de que a cerveja brasileira é ruim porque elaborada de maneira enganosa, na base da "malandragem", utilizando-se de produtos de baixa qualidade, ludibriando o consumidor e afastando-o do que o autor considera "bom gosto".


A indústria nacional de cerveja possui tradição de mais de cem anos e tem orgulho de produzir bebidas de altíssima qualidade, assumidamente mais leves, menos encorpadas, mais refrescantes, mais digestivas do que similares europeias e condizente com o clima brasileiro e com o que deseja o consumidor. Ao contrário do que dá a entender o artigo, as grandes cervejarias obedecem à legislação brasileira, que determina que a porcentagem de malte (cevada submetida a processo controlado de germinação) contido no extrato que dá origem à bebida não pode ser menor do que 55%. Os demais cereais que o mestre cervejeiro usa nas fórmulas, dentro da lei e das boas práticas da profissão e da produção, são não maltados, ao contrário do que diz o autor, e empregados para alcançar as características que se pretende: mais malte é igual a cerveja mais encorpada e mais pesada; menos malte (respeitando o mínimo de 55%) é igual a cerveja leve, refrescante, suave. A segunda e incompreensível incorreção do físico vem no bojo de conta que ele faz para tentar convencer que a cerveja fabricada no Brasil utiliza outros produtos que não a cevada para ludibriar o consumidor. Prova: o Brasil não produz nem importa cevada suficiente para dar conta da demanda de malte dos fabricantes. De fato, não mesmo. Tanto que a maior parte do malte utilizado pelas grandes indústrias, algo em torno de 65% ou mais, é importado. Mas isso não entrou na conta do autor. Da mesma forma, ele desconsidera que mais malte ou menos malte na cerveja é antes de tudo uma opção do mestre cervejeiro na formulação de seu produto. Em algumas marcas de grande penetração no nosso mercado, esse percentual chega a 100%. Trata-se de opção técnica, cujo único objetivo é justamente produzir um produto de acordo com a preferência do consumidor, nunca enganá-lo. Claro que há gosto para tudo, tanto que fabricantes nacionais mantêm em seu portfólio inúmeras marcas importadas, belgas, alemãs e outras. Mas essas marcas ocupam uma faixa inexpressiva do mercado, por um motivo muito simples: a imensa maioria prefere a cerveja brasileira. Ainda para tentar convencer o leitor de que a "má qualidade" origina-se na opção por produtos ruins, o autor comete mais um erro: afirma que o índice de conversão do grão de milho em álcool é maior que o da cevada. Trata-se exatamente do oposto: a cevada tem rendimento de 67% na composição do extrato originário da cerveja, enquanto o milho atinge apenas 56% de rendimento. Há ainda a contestar um argumento leviano e duplamente incorreto. O autor diz que a tal "má qualidade" seria, também, decorrência da utilização de conservantes químicos. As cervejarias brasileiras de primeira linha não usam conservante por dois motivos: primeiro, porque é ilegal, trata-se de prática vetada pela legislação; segundo, porque totalmente desnecessário, já que a conservação da cerveja de boa qualidade é garantida pelo seu próprio processo de fabricação. Por fim, o autor mira suas baterias contra o lúpulo utilizado no Brasil, também este de "baixa qualidade". Talvez ele não saiba que o produto é importado da Europa (onde é utilizado inclusive no fabrico das cervejas alemãs, por ele citadas) e dos EUA, que mantêm rígidos padrões de qualidade para o produto. Esse nível de desinformação se choca frontalmente com o patamar de excelência em que se encontra a indústria brasileira de cerveja. Trata-se de um setor que investe permanentemente em pesquisa e inovação, dispõe das mais modernas tecnologias e zela pela qualidade de seu produto porque tem plena consciência de que, diferentemente do que pensa o autor do artigo, seu consumidor é exigente e tem muito bom gosto.


SILVIO LUIZ REICHERT, químico, mestre cervejeiro pela Doemens Fachakademie, da Alemanha, é vice-presidente de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico da Anheuser-Busch Inbev.-


Fonte: Folha de S.Paulo

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