segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Micro cervejarias Mineiras

Outras rodadas


Produção de cerveja artesanal em Minas dá salto em produção e revela um consumidor sedento por novos sabores
Texto: Eliana Fonseca e Terezinha Moreira
Fotos: Nélio Rodrigues, André Fossati e Pedro Vilela


Garrafas com formatos longe das tradicionais, novos aromas, sabores, cores. Os apaixonados pela loura gelada continuam fiéis à bebida, mas confessam não resistir a esta tentação que vem conquistando mais e mais mesas de bares, restaurantes e as gôndolas de supermercados: as cervejas artesanais. Em diferentes estilos, estas cervejas especiais produzidas em Minas ganham mercado não só no estado, mas também fora dele. E acompanham um movimento nacional já que a estimativa é de que a venda da bebida, que está em franca expansão, cresça entre 20% e 25% este ano no Brasil.

Minas Gerais já conta com sete microcervejarias estabelecidas na Região Metropolitana de Belo Horizonte e em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, além de outras duas em fase de estruturação em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Em quantidade de empresas, Minas perde somente para Santa Catarina, onde foi iniciada a história da cerveja artesanal no Brasil.

Todas as empresas do segmento no estado são formalizadas e produzem cerca de 500 mil litros de cervejas e chopes especiais por mês, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas). Este volume deverá subir nos próximos anos já que a maioria das empresas pretende investir na expansão de suas marcas e na ampliação de seus mercados em todo o país. “No que se refere à variedade de estilos de cerveja, Minas está na vanguarda. Produz entre 12 e 15 estilos da bebida”, informa o superintendente do Sindbebidas, Cristiano Lamego. Além da alta qualidade das cervejas artesanais, a renda mais elevada dos brasileiros também se tornou fator preponderante para que os apreciadores da bebida aumentem em todo o país.

Este mercado ainda é novo em Minas, tem cerca de cinco anos, embora a Krug Bier tenha lançado seu chope artesanal há mais tempo. A iniciativa abriu caminho para que outros cervejeiros de plantão, que produziam para consumo próprio ou somente para os amigos, começassem a ver o produto como negócio, aliás, excelente negócio, e passassem a produzi-lo em mais quantidade.

A própria Krug Bier é um exemplo. Quando a microcervejaria criou sua cerveja especial, em 1997, inicialmente a produção era tida mais como hobby do que um negócio. “Começamos a ter uma demanda muito grande para que o produto fosse consumido em casa”, conta o diretor presidente da Krug, Marcelo Druzzi. Em 2008, os sócios resolveram transformar o hobby em negócio, com atitude comercial mais agressiva no mercado de Belo Horizonte.

Número: 500 mil litros de cervejas e chopes especiais são produzidos mensalmente no estado de Minas Gerais

Um dos sócios da cervejaria, Theo Dimitrius afirma que essa demanda crescente foi resultado de uma estratégia que sempre privilegiou padrão alto de qualidade de sua cerveja. Ele destaca que no decorrer dos últimos anos, a Áustria, marca de cerveja da Krug, conquistou prêmios importantes como os do 1º Concurso de Cerveja Especial do Brasil, em 2000, quando foi escolhida nas categorias claro e escuro, da Feira Internacional de Produtos e Serviços para a Alimentação Fora do Lar (Fispal). “Outros locais lançavam mão de acessórios como shows, danças, boates. Nosso foco sempre foi o produto de excelência”, diz Theo. No próximo ano, a Krug vai iniciar a distribuição em território nacional, de olho nos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Brasília, Curitiba e Porto Alegre.

Os sócios José Felipe Carneiro e Tiago Carneiro, da Cervejaria Wals, também não imaginavam o boom do mercado. Na época em que fundaram sua empresa, em 1999, o segmento dessas bebidas correspondia a apenas 2% da produção. “Esperava uma ascensão, mas não tão rápida”, diz José Felipe, que atualmente vende os produtos de sua marca, em estilo belga, para Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e região Sul do país. No próximo ano, quando a perspectiva da empresa é lançar uma cerveja com o tradicional método champenoise, o projeto é ingressar também nas regiões Norte e Nordeste.

O crescimento da demanda por consumo de cerveja artesanal tem impulsionado mudanças como a que deve ocorrer no próximo ano na Cervejaria Falke Bier, que espera dobrar a produção mensal e chegar a 20 mil litros. Tudo para atender um crescimento que deve chegar a 40%. A previsão, em 2011, é que a Falke lance bebidas no estilo tcheco bohemian pilsener, e da Estrada Real Weiss Bier, que é de trigo. O proprietário da cervejaria, Marco Antônio Falcone, afirma que a empresa tem, também, um pré-acordo com as italianas Baladin e Birra Del Borgo, para a fabricação da receita deles na Falke e vice-versa. “As cervejas serão lançadas com rótulos conjuntos, com o apoio do movimento Slow Food Internacional”, comemora Falcone.

Outra marca que pretende apostar em diversidade para seus clientes é a Backer Cervejaria, que lança, no próximo ano, mais cinco estilos da bebida. “Os clientes aumentam a cada dia, principalmente quando conhecem os novos aromas e sabores”, observa a diretora de marketing da Backer Cervejaria, Ana Paula Lebbos.

Perspectivas com lançamentos de novos produtos também cercam os irmãos Augusto Viana Figueiredo e João Paulo Figueiredo, donos da Cervejaria Artesamalt, em Sete Lagoas. Atualmente, eles produzem chopes pilsen, black e pale ale e a perspectiva é que, a partir de 2011, façam sua própria cerveja. O diferencial são ingredientes importados e a utilização de água mineral retirada diretamente de uma fonte próxima à fazenda do Pinheiro, em Sete Lagoas, onde é produzida. “Vamos também ampliar nossos pontos de venda”, aposta Augusto, que deseja consolidar a marca em Minas para depois partir para distribuição em todo o território nacional.

Toda essa expansão e evolução levam anos de estudos e estratégias, e exigem grande elaboração dos mestres cervejeiros. Em média, as cervejas artesanais levam de um mês e meio a quatro meses para ficarem prontas. “Esse tipo de bebida é um trabalho artístico e não para consumo em grande escala. Queremos manter o quesito para os apreciadores da cultura cervejeira”, destaca o mestre cervejeiro da Cervejaria Wals, José Felipe. Para ele, o consumidor brasileiro está se adaptando, com a cerveja artesanal, a um novo modo de consumir a bebida. “Ele está percebendo que a cerveja mais gostosa é a que tem aroma e sabor e que pode harmonizar com um prato”, afirma.

Especialistas em cerveja artesanal, caso do gerente-geral da Royal Empório, Frederico Rubinger, concordam que a expansão no mercado tem a ver com a sofisticação do paladar do consumidor, que cada vez mais tem optado por uma cerveja diferenciada, de boa qualidade. “E quanto mais esse público vai conhecendo essas cervejas, mais ele vai se tornando exigente e fortalecendo esse mercado”, garante.

O baixista Thiago Carvalho Correia, 30, integra o time que de consumidor virou apaixonado e conhecedor da cerveja artesanal. O interesse nasceu há dois anos, quando o músico fez uma viagem à Bélgica e passou dois meses apreciando algumas das melhores cervejas artesanais do mundo. “Durante esse tempo, tive contato com vários produtores locais e aí comecei a ler sobre o assunto”, diz. O interesse virou paixão e a paixão transformou-se na CruzAlta. “É um hobby extremamente prazeroso, mas trabalhoso. Por isso a cerveja é produzida a cada dois meses e não passa de 40 litros por vez”, diz.

E o que dizer das dez integrantes da Confraria Feminina de Cerveja (Confece), que têm o trabalho, ou melhor o prazer, mensal de não só degustar cervejas artesanais e especiais como fazer o fichamento das bebidas, em que escrevem sobre a cor, o aroma, com que prato harmonizam, se são intensas, encorpadas, fugazes. Sim, elas entendem e muito de cerveja artesanal tanto que, como todo bom apreciador, decidiram criar sua própria bebida e colocaram o bem brasileiro nome de Conceição. A criação foi orientada pelo mestre cervejeiro Marco Antônio Falcone. “Nossa cerveja é forte, feminina, mais avermelhada e que não é para ser bebida em grande volume”, avisa a presidente da Confece, a bioquímica Ingrid Paulsen. Se as primeiras levas da Conceição foram em cozinhas alheias, no próximo ano, o passo das cervejeiras é adquirir cozinha própria. “A partir de janeiro estaremos com uma produção mais regular”, avisa Ingrid.

Há outros apaixonados pela bebida, como o consultor ambiental João Marcelo Horta Mendes, 30, que começou a produzi-la com ingredientes bem brasileiros, como a jabuticaba, folha de laranjeira, rapadura e outros mais sofisticados como especiarias. Por enquanto, é um hobby que consome pelo menos dois finais de semana por mês, mas que deve ficar mais intenso no próximo ano. Mendes está comprando um fermentador com capacidade maior e sua produção deve ser de 180 litros a cada 15 dias. A cerveja, que já teve vários nomes e agora atende pelo provisório de Peripécia, é tanto para consumo próprio e dos amigos, como também para trocas com outros cervejeiros. Este escambo é prática comum e motivo de orgulho quando a produção é elogiada nas rodas de degustação.

Essa paixão que aguça o crescimento do consumo das cervejas artesanais está também favorecendo a geração de empregos. Apesar de ser ainda um setor pequeno, esse tipo de bebida tem maior valor agregado e acaba gerando mais empregos, proporcionalmente, do que as cervejas convencionais. Apesar de ser um ótimo motivo, este não é o único para as perspectivas de um mercado promissor nos próximos anos. Segundo o presidente do Sindbebidas, Mário Morais Marques, os empresários do segmento são experientes e conhecedores deste mercado. “Além disso, Minas Gerais é o estado que mais investe na produção da cerveja artesanal no Brasil.”

Para Marques, o investimento nos próximos anos será nas cervejas artesanais engarrafadas, que têm proporcionado a elevação nas vendas da bebida mineira para outros estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, para o Nordeste e até para o Sul do país, onde há produção e longa tradição do consumo. Até parece contraditório, mas a abertura para a importação de cervejas não interferiu no mercado do produto artesanal. “Pelo contrário. A chegada das estrangeiras aumentou a concorrência, é bem verdade, mas também abriu espaço para os nossos produtos, pois aguçou a vontade do brasileiro em experimentar as cervejas especiais brasileiras”, analisa Marques. E, visando este mercado, as cervejarias mineiras começaram a investir na qualidade e estilos de suas cervejas. E isso tem atraído também os apreciadores de vinho, o que prova que as cervejas artesanais mineiras escolheram a trilha certa para seu caminho de sucesso.

Schincariol
Se as microcervejarias estão em fase de ebulição com a expansão da cerveja artesanal, grandes indústrias, como o Grupo Schincariol também já entraram no mercado. Há três anos, a Schin comprou a Cervejaria Baden Baden, tradicional em Campos do Jordão (SP) há pelo menos dez anos. O grupo também arrematou a Eisenbahn, de Blumenau (SC), e a Devassa, do Rio de Janeiro. Se a fábrica da Baden Baden segue os regimentos do movimento mundial The Craf Beer Renaissence, onda que celebra a cerveja artesanal, a Eisenbahn segue a Reinheitsgebot, Lei Alemã da Pureza, enquanto a Devassa é produzida com maltes selecionados e importados.

A empresa não divulga investimentos e produção das cervejas e, segundo o diretor de cervejas do grupo, Guilherme Moraes, a distribuição da marca está focada nas regiões Sul e Sudeste, mas o rótulo também pode ser encontrado em casas especiais em todo o Brasil.

A linha Baden Baden dispõe de sete rótulos regulares – Cristal, Bock, Red Ale, Golden, 1999, Stout Weiss e também das edições sazonais, Celebration Inverno e Christmas Beer. “A Baden Baden é a perfeita cominação entre malte, lúpulo e a mais pura água de Campos do Jordão. Ela possui uma variedade de estilos que harmoniza com os mais diversos tipos de pratos e ingredientes, assim como um bom vinho”, afirma o diretor de cervejas do Grupo Schincariol, Guilherme Moraes.

Nenhum comentário:

 
.