domingo, 5 de setembro de 2010

Canoinhense

A CERVEJARIA QUE É HISTÓRIA

A família Loeffler mantém a Canoinhense desde 1924: a receita de sucesso é cuidar dos detalhes na produção

Alheio às facilidades da tecnologia, o tempo segue outro ritmo na cervejaria Canoinhense, uma das mais antigas do Brasil no ramo artesanal, provavelmente a mais antinga em funcionamento no País, fundada em 1908. Os ponteiros dos relógios, os poucos encontrados no galpão de fabricação e no casarão do casal Loeffler, correm pelos mesmos segundos daqueles suspensos nas paredes das construções mais modernas da rua Três de Maio, no Centro de Canoinhas, região Norte do Estado. Mas ali, a pressa e o corre-corre da rotina urbana parecem não ultrapassar os portões verdes do imóvel de esquina. As vidas que dão continuidade à atividade parecem seguir a mesma cautela necessária para tornar de forma artesanal a cevada em líquido.Tudo é capricho na propriedade de Rupprecht Loeffler, 93 anos, e da esposa Gerda, 86. As flores e folhagens são tratadas com esmero a ponto de serem acolhidas dentro de casa nos primeiros indícios de geada. Já os horários e datas, ainda que sentidos em outro compasso, são seguidos com rigidez. O bar, que fica no número 154 da rua Três de Maio, onde é vendida a produção de 2.780 garrafas mensais, abre às 8h30 e fecha exatamente quando o sol se põe – por isso, é normal que no verão os visitantes sejam atendidos em um horário prolongado. E é exatamente uma vez ao mês que o processo de fabricação de quatro tipos de cerveja movimenta o expediente dos dois únicos funcionários da pequena cervejaria.Os cervejeiros Raul e Tadeu colocam em prática os ensinamentos do senhor Loeffler, passados pelo seu pai, Otto, e que ele transmitiu aos filhos, netos e bisnetos. Raul e Tadeu não são da família, mas preservam o legado como se fossem. Os funcionários são aposentados e exercem as funções de mestres cervejeiros, atendentes e caixas do bar, enquanto a saúde de Loeffler se restabelece.A cevada, ingrediente principal da produção, é moído em instrumentos extintos nas grandes cervejarias do mundo. A planta vem de Guarapuava, no Paraná, e após passar pelo primeiro processo é levada ao tacho para cozinhar. A água, essa sim, ingrediente de exclusividade dos Loeffler, vem do poço que fica no subsolo da construção, o mesmo que abastece a residência do casal. Livre de cloro, o líquido que se mistura ao suco extraído da cevada volta para o tacho, agora fervido com o lúpulo – espécie de trepadeira responsável por conferir à cerveja o sabor amargo e o aroma característico da bebida.A mistura é posta para resfriar, até alcançar a temperatura ideal para ocupar o tanque de fermentação. A cerveja em seu estado primário adormece de seis a sete dias. Pronto para descansar em cinco barris centenários, trazidos da Alemanha pelo pai do proprietário, o líquido aguarda o engarrafamento durante dois dias para ser gaseificado e lacrado em garrafas reaproveitadas. Parte da produção não passa pela pasteurização, o que acrescenta mais uma qualidade nas cinco variáveis da Canoinhense. O chope, que pode ser claro ou escuro, tem um prazo de validade mais curto e colarinho mais generoso, mas o sabor, dizem os amantes da bebida, é um presente ao paladar, ainda mais se for servido bem gelado.A fabricação esconde em seus detalhes a receita da longa vida das marcas Jahú (pilsen), Mocinha (pilsen suave), Nó de Pinho (kulmbach) e Canoinhense Malzebier. O fermento é o reaproveitamento de uma sequência de produção que iniciou em 1924 com a família Loeffler. O que dá fidelidade ao sabor precisa de importantes cuidados que, se esquecidos, quebram uma corrente quase centenária. Para tanto, Raul faz questão de trocar semanalmente a água que mantém o fermento em perfeito estado de conservação.O único procedimento que foge aos aprendizados familiares, talvez a única inovação incorporada após a compra da cervejaria, está na lavagem dos engradados. O trabalho que antes era manual – os funcionários usavam escovões para retirar os restos de fermento no fundo da garrafa –, agora é feito em uma espécie de moinho. O equipamento nada moderno, porém útil, mergulha os vidros vazios, retirando os resíduos de cerveja. Isso porque a maioria das embalagens são reaproveitadas.A economia também está no uso dos rótulos. As garrafas que são consumidas no local não são identificadas com os selos de papel. Neste caso, a originalidade do líquido é com- provada pela coloração das tampas: a verde, Nó de Pinho; a amarela, Mocinha; a verme- lha Canoinhense Malzebier; e a azul, Jahú.

Fonte: A Noticia. AN.com.br. http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3028281.xml&template=4187.dwt&edition=15436§ion=1205--

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