segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Cervejas artesanais conquistam mercado em Belo Horizonte

Apesar dos preços mais altos, que variam de R$ 5,90 a R$ 790, bebida especial ganha o consumidor

Zulmira Furbino - Estado de Minas
Publicação: 27/12/2009 11:40 Atualização: 27/12/2009 12:01


Deus está à venda por cerca de R$ 300 em Belo Horizonte. Isso qualquer um pode descobrir se fizer uma pesquisa nas melhores cervejarias da capital mineira. Soaria estranho vender Deus, e ainda mais num estabelecimento como um bar, não fosse ela uma cerveja (achampanhada ) produzida na Bélgica e acondicionada, como seria de se esperar, em garrafas de champanhe de 750ml.

A presença de Deus nas prateleiras das casas do ramo em BH é uma prova de que a cidade aderiu definitivamente à onda das cervejas artesanais, que há 20 anos conquistaram os consumidores europeus e há uma década os americanos. Bem, agora é a nossa vez. E os preços das cervejas especiais, que vão de R$ 5,90 a R$ 790, estão aí para nos impedir de duvidar.

O Café Viena já não funciona como um café. A casa foi aberta há 10 anos na condição de restaurante austríaco e há apenas dois a cerveja entrou no cardápio. “A gente só vendia chope, vinho e uísque” diz o dono do lugar, Wellerson Fiúza Paulinelli. Tudo mudou no dia em que o estabelecimento recebeu, de uma só vez, 40 clientes que vinham relaxar depois de uma prolongada reunião de trabalho. Pediram cerveja. Paulinelli não tinha. “Foram todos embora. Os 40 de uma vez”, lamenta o empresário. Foi aí que o Café Viena começou a mudar. A princípio, servindo seis tipos de cervejas artesanais. O público gostou e o número passou para 15, 25, 65 até chegar às 440 – originárias de 25 países, entre eles o Japão – oferecidas atualmente. Do mix total, 40 são brasileiras.

A brasileira e também achampanhada Lust, fabricada pela Eisenbahn, em Santa Catarina, é a concorrente da Deus. Pode ser encontrada por R$ 179, o que a torna a cerveja nacional mais cara do mercado. Em seguida vem a Falken Monasterium (cerca de R$ 81), produzida no condomínio Vale do Ouro, na BR 040, saída para Brasília, pela mineira Falke Bier.

Marco Antônio Falcone, dono da cervejaria, explica que a cerveja é fabricada com três grãos de malte e aveia. “Ela é feita com uma quantidade muito maior de malte de trigo e aveia do que os produtos tradicionais”, diz. A bebida leva levedura de alta fermentação e é refermentada na garrafa. São 10 dias de maturação dentro de uma cave subterrânea antes de ser vendida. “Temos a primeira adega subterrânea de maturação de cervejas do Brasil”, orgulha-se Falcone.

Os altos preços, porém, não desanimam os apreciadores. E quem apostou nesse nicho de mercado não tem do que reclamar. No Café Viena, a nova carta de produtos virou referência e conquistou consumidores diferenciados. Só os turistas indicados por hotéis respondem por entre 40% e 50% da clientela. “Foi uma guinada, o movimento aumentou mais de 100%”, garante Paulinelli.

O belo-horizontino Ronaldo Morado é autor do primeiro livro sobre cervejas editado pela enciclopédia Larousse. Ele aposta que o número de amantes de cervejas artesanais no Brasil tende a aumentar. “De 20 anos para cá, os consumidores estão mais exigentes”, justifica. Ao lado disso, houve um boom de microcervejarias no Brasil e o número de cervejas importadas aumentou de modo significativo. “O mercado oferece cervejas que antes a gente não imaginava encontrar no Brasil. Além disso, consumir cerveja artesanal está virando moda. Isso estimula o consumo”, analisa.

A médica Luisane Vieira gosta tanto de cervejas especiais que tornou-se membro da Confraria Feminina da Cerveja (Confece), que completa três anos em março de 2010. Ela reconhece que a confraria trabalha na linha do “bier evangelismo”: organiza festas com chopes e cervejas artesanais no cardápio para ensinar os convidados a apreciarem o sabor da bebida. “A cerveja mais cara que já tomei foi a Deus”, revela. A proposta desse tipo de cerveja, ensina, não é beber em volume. “Essa é um bebida que deve harmonizar com o prato, incluindo a sobremesa”, diz. Nos cálculos dela, o padrão para uma cerveja dessa natureza é R$ 20 numa garrafa de 300ml, preços que valem quando a mercadoria é adquirida em supermercados. É possível encontrar garrafas tipo long neck por R$ 4 (caso da Leffe Blonde, tipo abadia).

Fernando Roberto da Costa, gerente do Haus München, fundado em 1966, explica que o mercado das cervejas artesanais em BH é formado por consumidores de classe média alta, que são degustadores da bebida. “As vendas estão crescendo 10% ao ano. Esse é um nicho de mercado que pode ser explorado porque não falta público. Ficamos sozinhos no mercado por 30 anos. Só há pouco tempo ganhamos concorrência, mas tem espaço para todo mundo”, acredita.

E tem mesmo. João Eduardo Diniz Becker acabou de se formar em administração de empresas e vive da produção caseira de cerveja artesanal iniciada em 2006. Ele fabrica, em média, de 350 a 400 litros por mês, tudo previamente vendido. “Levo de sete a 15 dias para maturar a cerveja, até que ela esteja pronta para ser engarrafada. Cada garrafa custa R$ 10. Vendo para amigos e coloco em um ou outro bar”, afirma.

Fonte: Uai

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